por Prof Dr. Apolônio do Carmo
Pesquisadores, estudiosos e trabalhadores na área da deficiência humana têm vivenciado ao longo das últimas décadas, insistentes tentativas de mudar a o significado e o entendimento de deficiência. Deficientes; menos válidos; pessoa portadora de deficiência; pessoa portadora de necessidade especial e por último, pessoa com deficiência. As explicações para essa polissemia partem do pressuposto equivocado que as palavras são capazes não apenas de modificar a realidade, mas também de minimizar a carga estigmática presente nas relações humanas.
Felizmente, com o passar dos anos perceberam que essa discussão é inócua e sem proposito, porque apesar das inúmeras modificações ocorridas as relações humanas, tanto entre deficientes, como não deficientes continuam eivadas de preconceitos e discriminações.
Na contramão da história, o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) nos recentes jogos de Londres resolveu adotar de forma submissa e alienada o termo Paralímpico, talvez com a soberba de se identificar com o comitê internacional (“paralympic) ou quem sabe, realizar mais uma tentativa frustrada de ser visto com outros olhos pela população. Essa mania de aportuguesamento das palavras inglesas (anglicismo) é antiga e gerou debates acalorados acerca do uso, por exemplo, de termos como 50% off; hot dog; save 30%; Bife; Basquetebol dentre outros comumente encontrados em jornais, revistas, vitrines e grandes magazines brasileiros.
Conforme o professor Pasquale, “o “par (a)-” da legítima forma portuguesa “paraolímpico” vem do grego, em que, de acordo com o “Houaiss”, tem o sentido de “junto; ao lado de; ao longo de; para além de”. Na nossa língua, ainda de acordo com o “Houaiss”, esse prefixo ocorre com o sentido de “proximidade” (“paratireoide”, “parágrafo”), de “oposição” (“paradoxo”), de “para além de” (“parapsicologia”), de “distúrbio” (“paraplegia”, “paralexia”) ou de “semelhança” (“parastêmone”). Talvez seja desnecessário lembrar que esse “par(a)-” nada tem que ver com o “para” de “paraquedas” ou “para-raios”, que é do verbo “parar” (não esqueçamos que o infame “Des/Acordo Ortográfico” eliminou o acento agudo da forma verbal “para”).”
Segundo ainda Pasquale “a formação de “paraolímpico” é semelhante à de termos como “gastroenterologista”, “gastroenterite”, “hidroelétrico/a”, “socioeconômico”, das quais existem formas variantes, em que se suprime a vogal/fonema final do primeiro elemento (mas nunca a vogal/fonema inicial do segundo elemento): “gastrenterologia”, “gastrenterite”, “hidrelétrico/a”, “socieconômico””.
Portanto, essa tentativa vã dos dirigentes do CPB precisa ser negada em nome da soberania nacional e coerência ás normas linguística. Mantenhamos jogos paraolímpicos e não Paralímpicos, porque são jogos realizados com adaptações e à semelhança dos olímpicos. Caso o CPB queira acabar com essa separação incompreensível (olímpiadas e paraolimpíada) tratem a questão com profundidade e modifiquem a realidade realizando em 2016 no Brasil os jogos dos deficientes no mesmo espaço e tempo dos jogos olímpicos e não apenas á sua semelhança. Essa sim é uma modificação consequente e digna de aplauso. Como afirmei em outros textos a hipocrisia tem sempre endereço certo. Desta vez esta residindo na mente dos responsáveis pelo CPB na “ilha da fantasia” chamada Brasília.