Lívia Motta

publicado em 13 11 2013

Lívia Motta

Lívia Motta

Nesta seção de entrevistas, vamos conversar com pesquisadores que buscam pensar a questão da acessibilidade e estarão ministrando aulas no Curso de Audiodescrição. Lívia Maria Villela de Mello Motta é professora doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC de São Paulo, com parte de seu doutoramento feito na Universidade de Birmingham, Reino Unido. Trabalha como audiodescritora e professora de cursos de audiodescrição desde 2005, tendo assumido, em seguida, a coordenação dos recursos de acessibilidade comunicacional no Teatro Vivo, o primeiro teatro brasileiro com acessibilidade para pessoas com deficiência visual e mais tarde também para pessoas com deficiência auditiva e surdos. Foi responsável pela exibição da primeira peça e da primeira ópera com audiodescrição no Brasil. Trabalhou como consultora do MEC/UNESCO e criou o site e blog: VER COM PALAVRAS, que tem como objetivos a divulgação da audiodescrição nos mais diversos contextos. Organizou junto com Paulo Romeu Filho o primeiro livro brasileiro sobre o tema: AUDIODESCRIÇÃO: TRANSFORMANDO IMAGENS EM PALAVRAS. Dedica-se à aplicação da audiodescrição em espetáculos, filmes, eventos acadêmicos e corporativos, na escola, em eventos sociais e à descrição de imagens estáticas para livros e outras mídias.

Em linhas gerais, em que consiste a audiodescrição?

A audiodescrição é um recurso de acessibilidade que amplia o entendimento das pessoas com deficiência visual em diversos tipos de espetáculos e produtos audiovisuais por meio de informação sonora. É a arte de transformar imagens em palavras, o que abre muitas janelas para o mundo para as pessoas com deficiência visual, promovendo o acesso à informação, à cultura e ao entretenimento. Os benefícios estendem-se também para as pessoas com deficiência intelectual, idosos, pessoas com dislexia, déficit de atenção.

Com este recurso, é possível conhecer o ambiente, cenários, figurinos, expressões faciais, linguagem corporal, entrada e saída de personagens em cena, movimentação de câmera, bem como outros tipos de ação e detalhes que serão importantes para que as pessoas com deficiência visual construam o seu entendimento e interpretem aquilo que assistem.

Em peças de teatro e em outros tipos de espetáculos como espetáculos de dança, óperas, shows, concertos, circo e outros tipos de espetáculos, a audiodescrição é sempre feita ao vivo, usando para isso os mesmos equipamentos de tradução simultânea, fones de ouvido e receptores. A informação sonora é transmitida pelos audiodescritores de dentro de uma cabine, com um roteiro previamente preparado, estudo sobre o tema e terminologia, inserida preferencialmente entre as falas dos personagens ou pausas do espetáculo. Em filmes, a audiodescrição será gravada e mixada à trilha original para ser inserida em DVD, observando os procedimentos já citados acima de elaboração de roteiro, estudo sobre o tema e terminologia.

Quais são as habilidades requeridas do profissional de audiodescrição?

O profissional audiodescritor irá entrar em contato com diversos tipos de obras de arte, produtos audiovisuais, espetáculos e eventos, traduzindo as imagens estáticas e dinâmicas em palavras. Para tanto, é importante que tenha um bom conhecimento de Língua Portuguesa, fluência verbal, senso de observação, repertório cultural, disposição e disponibilidade para busca de informações, pesquisa e estudo sobre os mais diferentes temas e áreas do conhecimento. É importante conhecer o público alvo, composto pelas pessoas com deficiência visual, saber sobre as especificidades e necessidades deste público e sobre outros notadamente beneficiados pelo recurso, como pessoas com deficiência intelectual, idosos, autistas, pessoas com dislexia, déficit. Além disso, é desejável o conhecimento de línguas estrangeiras, principalmente inglês. Pessoas com graduação em Letras, Tradução, Rádio e TV, Cinema, Comunicações e Artes Cênicas terão mais facilidade para desenvolver as habilidades necessárias.

Fazer um curso de audiodescrição para conhecer o recurso, suas especificidades e aplicações é, sem dúvida, o primeiro passo para tornar-se um audiodescritor. Entretanto, mais do que o conhecimento teórico, o engajamento em oportunidades de prática é determinante para a consolidação do aprendido e para a formação do profissional audiodescritor. Colocar a mão na massa, elaborando roteiros para diversos gêneros de espetáculos durante e depois do curso, apresentando-os, em seguida, em instituições, escolas e outros lugares, podendo ouvir o feedback de pessoas com deficiência visual, e contando com a participação de colegas e pares mais desenvolvidos – tudo isso é essencial na formação profissional e para que possamos ter, realmente, um produto de qualidade que atenda com responsabilidade às exigências do público com deficiência visual, que há anos aguarda pela chegada do recurso.

Se a audiodescrição é “a arte de transformar imagens em palavras”, qual é a importância desse trabalho para as pessoas com deficiência visual e para a sociedade?

A audiodescrição permite que as pessoas com deficiência visual participem em igualdade de oportunidades, com acesso pleno a todas as informações necessárias para o entendimento dos diferentes tipos de espetáculos, obras, eventos e produtos audiovisuais. É, dessa forma, um instrumento de inclusão social, cultural e escolar. As pessoas que assistem pela primeira vez a um espetáculo ou produto com audiodescrição encantam-se e percebem o quanto perdem de detalhes, informações visuais que são essenciais para a apreciação da obra. Eu sempre digo que a audiodescrição abre janelas para o mundo, ampliando o conhecimento sobre as coisas do mundo. Com o recurso, esse público, que tem sido historicamente e culturalmente excluído das artes visuais, poderá aprender ou reaprender a apreciar este tipo de arte, e a consumir produtos culturais.

Qual é a importância do Curso de Especialização em Audiodescrição?

Até aqui, a formação de audiodescritores tem sido feita por meio de cursos livres, cursos de extensão, oficinas ou como disciplina em curso de pós-graduação, com carga horária pequena e insuficiente para atender à multiplicidade de conhecimentos exigidos do audiodescritor. Como a demanda por profissionais vem aumentando, precisamos formar audiodescritores que possam ser multiplicadores em suas regiões, que consigam atender com qualidade à necessidade de transformação de imagens em palavras dos inúmeros tipos de eventos, espetáculos e produtos audiovisuais. No Curso de Especialização, será possível abranger uma gama maior de conhecimentos teóricos e práticos necessários para o desempenho da profissão.

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