A importância dos jogos indígenas

Profa Dra. Maria Beatriz Rocha Ferreira

Os jogos foram criados pelos povos, difundidos através do contato e resignificados com as transformações das civilizações e sociedades. A imitação e mais especificamente a mimesis é uma característica fundamental no aprendizado e transmissão dos jogos. Mimesis é o ato inerente dos seres humanos para imitar, mas não como cópia do real. Essa capacidade humana de perceber, sentir, transformar em imagens mentais, re-interpretar e re-significar favoreceu o aprendizado, a criação e transmissão dos jogos. A capacidade mimética da espécie, entre outros fatores, pode garantir a ela condições para ensinar, aprender, construir representações e novas relações sociais e transformar.
Os jogos exercem um papel fundamental para as crianças, jovens, adultos e idosos, independente do gênero. Contribuem para o desenvolvimento da motricidade, da sociabilidade, das emoções, da inteligência, do ser metafísico, entre outros.

Eles se inscrevem nas áreas do prazer, da sensibilidade e das emoções e estão inseridos nos processos sócio-históricos da humanidade.

Além do mais eles se constituem pela fascinação e capacidade de excitar, expressas pela incerteza e pelo acaso. Estão presentes nas histórias infantis, nos mitos, nos rituais sagrados, nas atividades de passatempo. Eles congregam valores culturais importantes, que asseguram a identidade de grupos. Fazem parte da memória lúdica dos povos.

Jogos indígenas têm característica específicas. São atividades corporais, com características lúdicas, por onde permeiam os mitos, os valores culturais e que, portanto, congregam em si o mundo material e imaterial, de cada etnia. Eles equerem um aprendizado específico de habilidades motoras, estratégias e/ou sorte. Geralmente, são jogados cerimonialmente, em rituais, para agradar a um ser sobrenatural e/ou para obter fertilidade, chuva, alimentos, saúde, condicionamento físico, sucesso na guerra, entre outros. Visam, também, a preparação do jovem para a vida adulta, a socialização, a cooperação e/ou a formação de guerreiros. Os jogos ocorrem em períodos e locais determinados, as regras são dinamicamente estabelecidas, não há geralmente limite de idade para os jogadores, não existem necessariamente ganhadores/perdedores e nem requerem premiação, exceto prestígio; a participação em si está carregada de significados e promove experiências que são incorporadas pelo grupo e pelo indivíduo.

Muitos jogos indígenas foram forçados a serem esquecidos, por resistência de colonizadores contrários aos rituais sagrados dos povos sob domínios. Atualmente no Brasil os povos indígenas organizam eventos para revitalizarem os jogos, como o evento dos ‘Jogos dos Povos Indígenas’ organizado pelo Comitê Intertribal de Ciência e Memória Indígena e o Ministério dos Esportes.

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