1o. de setembro: Dia do Profissional da Educação Física

publicado em 01 09 2014

educacao-fisica-post-melhorNo dia de hoje, em que se comemora o dia do profissional de Educação Física, prestamos uma homenagem a esses profissionais com excelente texto para reflexão do Prof. Dr. Apolônio Abadio do Carmo:

A lógica capitalista de mercado fez do movimento humano, desde meados do século XX, uma mercadoria de troca, e do corpo belo, saudável e bem cuidado seu grande alvo. Para isso, com auxílio da mídia, faz apologia à saúde, cria indústrias voltadas para a produção de alimento, roupas, bebidas, energéticos e medicamentos.

Essa concepção de corpo, somada à falta de equipamentos modernos e condições dignas de trabalho docente nas escolas, tem esvaziado e desmotivado a participação dos alunos nas aulas de Educação Física. Ao mesmo tempo, enquanto as academias se multiplicam país a fora, cada uma mais moderna que a outra, oferecendo aos usuários uma cadeia invejável de produtos, a Educação Física Escolar continua a mesma, espaços precários e improvisados; uma bola para quarenta alunos; professores mal pagos e expostos a todo tipo de intempérie.

Por mais criativo que seja o professor de Educação Física, o aluno percebe o choque entre a “corpolatria” vendida nas academias e os conteúdos oferecidos nas escolas. Esse descompasso faz com que surjam atestados médicos duvidosos, faltas constantes e sem consequências, inatividade e aumento de peso das crianças; agressões a professores e outras atitudes degradantes e incompatíveis com o ato educativo. Soma-se a isso o fato de que a Educação Física, ao longo de sua existência, sempre priorizou exercícios centrados na contração muscular, na hipertrofia, no rendimento, na eficiência, buscando desenfreadamente a vitória e a medalha.

As consequências disso para o corpo humano são por demais conhecidas: aumento de lesões, uso indiscriminado de anabolizantes, sem mencionar as consequências nefastas das “fórmulas mágicas” de emagrecimento, hipertrofias e cirurgias modeladoras. Infelizmente, os estudiosos da Educação Física, cuja pedra de toque é o corpo humano em movimento, têm preferido disciplinar suas mentes em férreas estruturas intelectuais e discutir entre si tal ou qual concepção crê cada um, na exatidão de seu próprio conceito de corpo e na falsidade do conceito alheio.

O conceito de movimento humano hegemônico alude à realidade, mas não é a realidade do movimento e, mais, não pode ser a realidade porque não o expressa em todas as suas dimensões. É parcial e limitado à contração, ao macro, ao visível; reverter esse ideário é a grande meta desse século. Por essa e outras razões, o desafio atual, no campo da Educação Física, não se restringe apenas em analisar criticamente as atividades físicas e movimentos desportivos – desvelando seu maior ou menor grau de alienação, controle e liberdade do corpo –, mas em identificar e reorganizar o movimento humano, de modo que os profissionais da área em espaços escolares e não escolares possam utilizá-los como ferramenta educativa nas perspectivas da diversidade humana, docência ampliada, inclusão social e educacional.

Parabéns aos abnegados professores e professoras de Educação Física pelo seu dia e por conseguirem, com tão pouco, superar as mazelas sociais e disseminar, dentro do possível, ações educativas consequentes. Resistem porque sabem que a ignorância, a violência e a pobreza são unidades indissolúveis e precisam ser superadas.

Apolonio A. do Carmo Professor de Educação Física Inativo UFU

Texto publicado originalmente no jornal Correio de Uberlândia.

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